“O PSB tem um papel importante de colocar o Brasil em debate”

Reeleito prefeito do Recife numa votação histórica, onde recebeu mais de 500 mil votos da população recifense, Geraldo Julio fala sobre o início sua militância política, sua atuação nas gestões socialistas dos ex-governadores Miguel Arraes e Eduardo Campos e sobre suas perspectivas para o futuro do Recife.

O gestor ainda faz uma avaliação sobre o papel que o Partido Socialista Brasileiro desempenha na política brasileira, o legado do PSB de Pernambuco, que em 2017 completou 10 anos de gestão ininterrupta, e sobre as principais bandeiras socialistas.

Confira a entrevista na íntegra abaixo e assista aos principais trechos neste vídeo:

 

Prefeito, antes de chegar à história do homem público, queria que falasse sobre como iniciou sua militância política. 

Minha militância começou muito cedo, ainda com 11 anos de idade participando da campanha de doutor Arraes na volta do exílio para deputado federal. Pude participar de campanha porta a porta, de alguns atos políticos, desde 11 anos de idade e nunca mais parei, sempre ao lado do PSB.

Neste contexto, o que doutor Arraes representa na sua trajetória política?

Doutor Arraes é para gente, para nossa geração, aquela pessoa que faz a gente despertar e prestar atenção nas desigualdades sociais, naqueles que sempre precisaram de oportunidades e nunca tiveram, nas pessoas mais pobres. Abrir as portas para essas pessoas. Doutor Arraes sempre lembra muito isso a gente, especialmente para mim como prefeito do Recife. As aulas que ele deu como prefeito da cidade, transformando o Recife em tão pouco tempo. Ele criou a rede de educação municipal aqui em nossa cidade, espalhando junto com a organização popular, com associações de bairro, salas de aula em toda a cidade. Ele inaugurou a educação municipal do Recife.

Como foi sua experiência nas gestões dos ex-governadores Miguel Arraes e Eduardo Campos? 

Tive oportunidade de trabalhar com doutor Arraes em 1997/1998 e tive oportunidade de trabalhar com Eduardo Campos. Foi uma grande oportunidade tanto com Arraes, quanto com Eduardo. Foi uma oportunidade de ver um obstinado, trabalhador, dedicado, comprometido. Uma pessoa que colocou toda sua energia, sua vida inteira na luta pelas camadas mais populares, pelo desenvolvimento, pelo combate à desigualdade, pela inovação, por oferecer oportunidade para as pessoas, para os que mais precisam, para aqueles que sempre esperaram e nunca tiveram oportunidade. Foi um aprendizado muito grande. De sacrifício pessoal, de esforço, de dedicação e não só do talento que Eduardo tinha. Eduardo não era só talento. Ele era muita dedicação, muito trabalho. Ele suava a camisa para fazer tudo que fez pelo nosso Estado. Um Estado que hoje tem a melhor educação do País, que viu serem criados 500 mil postos de trabalho, que viu tantos programas exitosos e tantas transformações.  Eduardo vai sempre ser lembrado pelo povo de Pernambuco como um grande governador que ajudou a milhões de pernambucanos a mudarem de vida.

 

Como foi para o senhor o desafio da transição de secretário para candidato a prefeito do Recife? 

É uma mudança muito importante na vida da gente. Eu como secretário tinha atividades políticas ligadas ao nosso dia a dia, mas muito mais ao perfil de gestão. E como candidato a atividade política toma muito mais o nosso espaço. Eu sempre digo que não existe um muro que divide o técnico do político. Você tem habilidades técnicas e políticas e em cada etapa da sua vida pode ser exigido mais capacidade técnica ou mais capacidade política. É claro que na atividade de hoje a habilidade política é muito mais exigida e a gente tem que aprender, tem que ir aprendendo com a vida. Prestando atenção nos que os outros fizeram. Eu tive oportunidade de conviver com um líder como Eduardo e aprender muito com ele na gestão e na política e com tantas outras pessoas que a gente observa, que a gente lê, que a gente aprende. E a gente vai aprendendo. Eu tenho me dedicado muito a responder pela gestão, por aquilo que a população está esperando, e pela atividade política também.

Foto: Andréa Rêgo Barros

O que significa ser prefeito do Recife na sua vida?

Ser prefeito do Recife é uma oportunidade imensa na vida de qualquer um e, sobretudo, na minha. Sou recifense, nasci aqui, sempre morei aqui, sou casado, tenho três filhos. Um filho de 14 anos, um de 12 e uma menininha de sete anos. Eles moram aqui e vão morar provavelmente a vida inteira no Recife. Eu sempre digo que quero viver muito, quero viver mais de 100 anos. Eu sou prefeito por oito anos, mas sou recifense por 100. Então estou cumprindo a minha parte como cidadão, como morador da cidade, em construir uma cidade melhor para esta geração que está aqui e para as próximas. Esse é o compromisso que eu sinto todos os dias como prefeito da cidade.

 

Que avaliação o senhor faz do PSB nesses 10 anos de gestão de Pernambuco?

A gente viveu em 2014 uma eleição muito difícil para o PSB. A gente perdeu Eduardo durante o processo eleitoral e não foi nada fácil para nós do PSB, mas conseguimos ter um resultado muito expressivo. Nós tivemos um resultado importante em 2014 e na eleição de 2016 fomos o terceiro partido mais votado no País. E isso foi um resultado muito importante. E aqui em Pernambuco também, com a eleição de 70 prefeitos aqui no nosso Estado sob a liderança do governador Paulo Câmara. Foi um resultado muito expressivo. O PSB neste momento está reaprendendo a se organizar, a ter atividade política sem a presença de Eduardo. Faz apenas dois anos e oito meses que Eduardo não está com a gente. É muito recente. Todos nós estamos no processo de aprendizado, de organização de trabalho e de atividade dentro do partido, que era uma liderança tão forte no PSB.

 

O governador Paulo Câmara assumiu a gestão em um dos momentos mais difíceis da economia brasileira, que provocou reflexos no Estado. Mesmo assim, manteve Pernambuco de pé, o que já rendeu avaliações de que seu correligionário é o melhor governador do País.  Como você avalia a administração de Paulo?          

 O governo de Paulo é muito vitorioso. A gente está vivendo uma crise econômica sem precedentes. Já faz três anos que o Brasil está na mais dura crise que já viveu e Paulo vem governando nessa situação. Ele mantém as contas equilibradas, ele mantém a atividade do governo e não só isso. Ele vem fazendo investimentos e entregando muita coisa para população.  Já foram mais de 10 escolas técnicas, novas estradas, tem 34 em obras, já entregou hospital, UPA Especialidade. Num momento como este em que a gente vê estados ricos, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais quebrados, sem conseguir pagar salários, fechando equipamentos de prestadoras de serviços, Paulo está aqui mantendo as contas equilibradas, mantendo os serviços funcionando e ainda fazendo inaugurações. Uma escola técnica tem um valor muito grande pra um jovem que tem oportunidade de estudar lá. O ensino médio de Pernambuco já o melhor do Brasil num trabalho que foi iniciado por Eduardo Campos e que vem sendo continuado com muito êxito por Paulo. As escolas de Ensino Médio são procuradas, as escolas de referência são mais procuradas e as escolas técnicas mais procuradas ainda e ele já inaugurou 10. É um governo muito exitoso, de muita responsabilidade. E eu gosto sempre de destacar que a gestão de Paulo é feita com muita sinceridade, lealdade, verdade. Paulo administra dizendo a verdade ao povo. E esse é um valor que qualquer brasileiro gostaria de ver em seu gestor, em seu prefeito, em seu governador. Paulo trabalha com a verdade e esse é um valor que o povo de Pernambuco reconhece nele.

 

Em agosto, o PSB completa 70 anos de história. Que papel o Partido Socialista Brasileiro desempenha na política brasileira?

Nesse momento de falta de credibilidade na atividade política e dos políticos no Brasil inteiro, o PSB tem um papel muito importante. Um partido que tem 70 anos de uma atividade política verdadeira, de posições políticas firmes durante toda sua história, um partido que tem um programa e acredita numa forma de governar e de fazer atividade política no País, o PSB tem um papel importante. Colocar o Brasil em debate. Eduardo sempre dizia isso em 2014. Nós precisamos discutir o Brasil. Essa coisa do a favor ou contra, do sim ou não, não é suficiente para uma sociedade se organizar e uma atividade politica acontecer num país. Não dá pra ser assim. Tem que ter discussão, tem que ter debate. O Brasil precisa ser posto em debate. A gente espera que o PSB possa cumprir esse papel na eleição de 2018 e a que a gente possa ver o Brasil discutindo o futuro. O futuro do seu povo, o combate à desigualdade, a injustiça social, a criação de oportunidades. É esse o papel que o PSB tem que cumprir na política brasileira.

 

Qual a bandeira do PSB o senhor mais se identifica?

Sem dúvida nenhum essa coisa da gente cuidar das pessoas que tem menor renda, tem menos oportunidades e muitas delas revivem a vida dos seus avós, dos seus pais sem nenhum tipo de mudança. Essa bandeira do PSB, ligada ao futuro, ao jovem, a educação, a gente abrir a oportunidade a quem nunca teve oportunidade e com isso reduzir a desigualdade, que é tão brutal no nosso País, é o que mais nos atrai no PSB. É um partido inovador, que quer ver esse País melhor, que quer construir País melhor para as próximas gerações e que acredita que as gerações anteriores que lutaram tanto para gente viver numa democracia merecem ver essa geração que está administrando o País agora, que está vivendo o serviço público, a iniciativa privada, a sociedade em geral, possam usar a democracia para entregar as próximas gerações um país muito melhor. Essa é a responsabilidade de quem está no Brasil hoje.

 

Para encerrar, como prefeito do Recife pela segunda vez que cidade o senhor sonha entregar daqui a quatro anos?

Um Recife com muito mais educação, que a gente possa ampliar a qualidade da educação porque pela educação a gente faz uma transformação social muito forte. E um Recife com transformações urbanas importantes. O Recife sofre muito pelo modelo de desenvolvimento urbano que cresceu no mundo inteiro e se consolidou nas últimas décadas em muitas cidades do mundo e que causa muito sofrimento aqui no Brasil em todos os grandes centros. A transformação não é simples, mas que a gente vem fazendo com muita força, com o programa como o Recife 500 anos, o Parque Capibaribe, que acabou de inaugurar o Jardim do Baobá, o Cais do Imperador, a mudança que a gente fez na Avenida Rio Branco, que hoje é uma passarela para as pessoas. São transformações urbanas importantes. Educação é a transformação da cidade.