João Campos: “O PSB continuará como maior partido do estado”

Foto: Edson Holanda

Prefeito do Recife marcou presença em congresso realizado em São Lourenço da Mata e destacou a união desse conjunto político em torno de um estado melhor

“Pernambuco se levanta e anda pra frente”. Foi com esse mote que a militância do PSB se reuniu, na manhã deste sábado (29), no Congresso Regional do partido em São Lourenço da Mata. O evento, que contou com a participação do prefeito do Recife e vice-presidente nacional do PSB, João Campos, foi marcado por discursos entusiasmados de lideranças do partido e de legendas aliadas. Nas falas, o resgate dos resultados do ciclo iniciado pelo ex-governador Eduardo Campos em 2007 e a expectativa pelo que pode ser construído em um futuro próximo, com o PSB novamente à frente do Governo do Estado.

“Assim como foi o maior partido nas eleições de 2024 em Pernambuco, o PSB continuará sendo o maior partido do nosso estado, inclusive nas eleições de 2026. Vamos trazer novos quadros Brasil afora, crescer em tamanho, mantendo a nossa qualidade e a nossa firmeza política. Tenham certeza de que a caminhada vai ser bonita. Vamos reunir muita gente pelo caminho e fortalecer esse conjunto que está aqui, porque não adianta você crescer se seus amigos não acompanham esse crescimento. Os partidos que estão aqui fazem um grande trabalho. Vamos continuar esse trabalho lado a lado”, declarou João Campos.

O prefeito do Recife também lembrou a parceria entre seu pai, Eduardo Campos, e o ex-prefeito de São Lourenço da Mata, Ettore Labanca, ressaltando o aprendizado que eles deixaram sobre como fazer política. “Pela memória de Ettore e de Eduardo, que a gente siga fazendo o que eles nos ensinaram, que é trabalhar, fazer o dever de casa bem feito e, principalmente, cuidar do povo que precisa. É estar na rua, é estar na periferia, é estar no rincão aonde ninguém chega. No tempo da bonança ou da dificuldade, nosso lado é no chão, é na poeira, é junto do povo”, completou o prefeito.

Anfitrião do congresso regional, o prefeito de São Lourenço da Mata, Vinicius Labanca (PSB), lembrou que, neste sábado, completam-se seis anos do falecimento de seu pai, Ettore Labanca, exaltado como maior líder político de sua cidade. Também ressaltou a importância de o PSB falar sobre o futuro mesmo em ano que não tem eleição. “Ainda faltam um ano e três meses para irmos às urnas, mas não faltam um ano e três meses para a gente começar a conversar. Nós temos a oportunidade de renovar a esperança e os caminhos deste estado. Pernambuco nunca esteve tão precisado de uma liderança para governar nossos destinos. Que as mensagens ditas aqui hoje repercutam em todos os cantos do nosso estado”, afirmou.

DIRIGENTES – O presidente estadual do PSB, deputado Sileno Guedes, destacou o congresso em São Lourenço da Mata como parte de um rito partidário que envolve cerca de 40 municípios pernambucanos. O processo é preparatório para o Congresso Estadual do partido, agendado para 5 de abril, no Recife, e para o Congresso Nacional, em Brasília, no fim de maio, que culminará com a eleição de João Campos como presidente nacional da sigla. “Assim como fizemos com Arraes e Eduardo, vamos emprestar ao Brasil o prefeito João Campos, como presidente nacional do PSB”, disse o presidente.

O ato também contou com discursos de outros dirigentes partidários sobre a importância da união desse conjunto político. O presidente estadual do União Brasil, Miguel Coelho, criticou o fato de Pernambuco ter hoje “um governo que parece que não se conecta com a realidade” e avaliou que as pessoas querem depositar “na capacidade e na força de trabalho” dessa “jovem liderança que aparece para o Brasil” a esperança “de um Pernambuco melhor”. Já a vice-presidente nacional do Solidariedade para a Região Nordeste, Marília Arraes, reforçou que é “tempo de apontar para o futuro” e que “esse é o time que vai mudar Pernambuco e o Brasil”.

O presidente estadual do MDB, Raul Henry, por sua vez, resgatou a aliança histórica entre seu partido e o PSB e disse que, apesar de ter “gente querendo que o MDB vá para o outro lado, o MDB vai ficar aqui, porque aqui é o nosso lugar, porque aqui é o lado certo da história”. Também fizeram discursos em exaltação à unidade o deputado federal Pedro Campos (PSB), o deputado estadual Eriberto Filho (PSB), o vice-prefeito de São Lourenço da Mata, Lucca Labanca (PSB), o secretário do Republicanos em Pernambuco, Carlos Costa, e o presidente estadual do Agir, Fábio Bernardino. O secretário-geral do PT, Sérgio Goiana, também esteve no evento e representou o senador Humberto Costa (PT).

CONGRESSOS – Afogados da Ingazeira, no Sertão, também receberá um congresso de abrangência regional. O evento ocorrerá neste domingo (30), às 9h, na Associação Atlética Banco do Brasil, e contará com a participação do prefeito João Campos. Até a próxima segunda-feira (31), cerca de 40 localidades terão escolhido os membros dos diretórios e comissões executivas do PSB em todo o estado.

29/03/2025 – Assessoria de Comunicação do PSB-PE

Prefeito Sivaldo Albino anuncia programação nacional do FIG

Foto: Vinicius Vilela

Com 120 dias de antecedência, o prefeito Sivaldo Albino (PSB) anunciou toda a programação nacional do Festival de Inverno de Garanhuns.

Grandes nomes da música popular brasileira vão compor a grade, que contará com forró, sertanejo, trap, rap, reggae, brega, mpb, pop rock e muito mais.

“Sem sombra de duvidas essa será a Maior, Melhor e Mais Intensa edição da história dos Festivais de Inverno, que completa 35 anos de história com 33 edições”, declarou o prefeito.

A programação anunciada pode ser conferida no perfil oficial do festival: @figgaranhunsoficial

14/03/2025 – Com informações da Prefeitura de Garanhuns

Perfil no jornal O Globo mostra João Campos como player nacional

Foto: Rodolfo Loepert

O jornal O Globo publicou neste domingo (26/01) um perfil detalhado do prefeito do Recife, João Campos (PSB), destacando sua evolução como gestor e figura política de projeção nacional, com uma influência crescente dentro e fora de Pernambuco. Na série de perfis que leva o nome de “Persona”, feita por colunistas, editores e repórteres sobre as figuras mais relevantes do país, o periódico também enfatiza o domínio da comunicação digital por parte de João Campos.

A reportagem, que dedica três páginas inteiras a traçar o perfil do prefeito, ressalta a sua rotina intensa. “Aos 31 anos, se orgulha de ter realizado mais de 1.300 agendas em cerca de 1.200 dias de mandato. Desde visitas a obras e reuniões institucionais até compromissos políticos nacionais, João Campos se mantém ativo e conectado com a população. Com 2,8 milhões de seguidores no instagram, ele se tornou referência em comunicação digital entre prefeitos brasileiros”, frisa o jornal, que cita inclusive a recente convocação do presidente Lula para que João Campos ajude na estratégia digital do governo federal.

João tem defendido uma comunicação ágil e simbólica, entendendo que, no mundo atual, mensagens curtas e diretas são mais eficazes do que longos discursos. Segundo O Globo, essa forma de atuar, somada ao grande conjunto de entregas na educação, saúde e infraestrutura o levou a conquistar a reeleição em 2024 com o histórico resultado de 78% dos votos.

Atualmente, observa o repórter que acompanhou o prefeito em agendas pela rua, as pessoas já lhe veem como nome não só para o Governo de Pernambuco, mas também para a presidência da República.

A reportagem afirma que Campos deve disputar o cargo de governador em 2026 e que já desponta com 64% dos votos contra 22% da atual governadora na última pesquisa eleitoral feita no estado, embora o próprio chefe do Executivo Municipal mantenha cautela sobre o assunto.

Além disso, são citadas a linha do tempo de João, com conquistas de grande dimensão – a exemplo da votação recorde para a Câmara Federal em 2018, a relação com a família e a sua namorada – a deputada federal Tabata Amaral, a referência no pai e bisavô – Eduardo Campos e Miguel Arraes, entre outros temas. Na conclusão, o jornal o coloca como um político moderno, com carisma, forte poder de comunicação digital e atuação efetiva traduzida em projetos e obras concretas, entregas que marcaram os últimos anos da capital pernambucana.

Confira a reportagem na íntegra:

João Campos: a esquerda de novo visual

Por Caio Sartori

Sob o sol de 15 de janeiro numa comunidade do bairro de Água Fria, Zona Norte do Recife, uma suada senhora evangélica, vestindo uma camiseta da Assembleia de Deus, não escondia a euforia antes de pedir uma foto.

— Quero ver o rosto do homem! Já vi muito o do pai e o do avô — gritou ao lado do rapaz de olhos azuis e nariz avantajado. — Vai virar governador! — vaticinou um outro apoiador.

Quando percorre as ruas da cidade — sempre de camisa de manga curta, jeans e tênis esportivo —, o jovem tratado como celebridade se depara a todo momento com ecos do passado e projeções sobre o futuro. Aos 31 anos, o prefeito do Recife é hoje mais João do que Campos, mas não deixa de ser o bisneto de Miguel Arraes e o filho de Eduardo Campos, os dois políticos mais vivos na memória pernambucana. Reeleito com 78% dos votos, também já escuta aos montes gritos que o colocam na disputa do ano que vem pelo Palácio do Campo das Princesas, sede do governo do estado comandado pelo bisavô em diferentes momentos dos anos 60, 80 e 90, e pelo pai entre 2007 e 2014.

É assim todo dia, e os dias são longos. O mais jovem prefeito de uma capital brasileira se gaba de ter realizado mais de 1.300 agendas em cerca de 1.200 dias de mandato, numa média de mais de uma por dia. Em uma terça-feira de janeiro, começou às 6h em visita a obras de contenção de encostas, passou por reuniões internas e voou para o velório do pai do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), em Alagoas. À noite, deu entrevista, cortou o cabelo e se reuniu com três secretários já de visual novo. Quando saiu da prefeitura, um destacado prédio alto no Recife Antigo, era madrugada de quarta-feira. Como é de praxe após todos os atos da rotina profissional, registrou com orgulho nas redes sociais o horário de encerramento do expediente. “Nada vence o trabalho”, escreveu na selfie em que aparece sorridente.

Todos os passos de João são seguidos de perto por um assessor que o filma com o celular, mas o próprio prefeito planeja cerca de 80% do que publica nas redes. É na arena digital, na qual a direita dá de goleada na esquerda, que agiu como uma espécie de consultor para o governo Lula na semana da crise do Pix.

Naqueles dias, o “prefeito TikTok” foi chamado a Brasília e deu pitacos na área em que ostenta números relevantes. São 2,8 milhões de seguidores no Instagram, o maior montante entre todos os comandantes de cidades do Brasil e quase o dobro da população recifense, que é de 1,5 milhão de pessoas. Integrantes da equipe de João passaram a compor o time do novo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, e o estrategista de sua campanha de reeleição, Rafael Marroquim, também desembarcou por uma semana na capital federal para ajudar o Planalto.

— O principal é ter conexão e sinergia com o povo, e Lula tem isso como poucos. O desafio é entender que no mundo de hoje é preciso ser mais rápido, mais simbólico, não tem direito a falhas. Estamos falando de um tempo na comunicação digital que tem a força do Reels, de um bumper, uma propaganda de cinco segundos no máximo no YouTube. Se você fizer um pronunciamento de uma hora, ninguém vai ver o que você falou, mas vão ver a falha de cinco segundos que cometeu — avalia João Campos, em claro recado à língua do presidente.

O prefeito constrói o “simbólico” de que tanto fala nas redes sociais, e o momento de virada se deu no carnaval de 2024. Era verão, mas nevou no Recife: instigado pela turma do bregafunk, o gênero musical nascido na periferia da cidade, descoloriu o cabelo e dançou com óculos Juliet, dois símbolos das regiões mais pobres. Com o gesto, ganhou centenas de milhares de seguidores em poucos dias, transcendendo as fronteiras recifenses e alcançando outras cidades do estado e do país.

— O que me fez nevar foi que quem neva são os jovens periféricos que pintam o cabelo para brincar o carnaval, e parte da sociedade vê isso com preconceito. Eu fiz como ato de manifesto social, para dizer que quem é da periferia tem nosso respeito — afirma. — Foi um verdadeiro sucesso. É um tempo do símbolo. Não precisei explicar, as pessoas entenderam.

A parceria de hoje entre João Campos e PT esconde um passado de atritos. Em 2014, quando o pai, então candidato a presidente, morreu em um acidente aéreo, ele fez campanha para Aécio Neves (PSDB) contra Dilma Rousseff (PT) no segundo turno presidencial. Dois anos depois, a maior parte do PSB abraçou o impeachment de Dilma, e o partido entrou com cargos no governo Michel Temer (MDB). Quando Lula estava preso em Curitiba no auge da operação Lava-Jato, era daqueles que achavam que a esquerda deveria buscar alternativas. O partido chegou a flertar com a candidatura do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa.

Hoje, João tem olhar mais crítico sobre esse passado:

— Não participei das decisões, mas acho que de fato foi um momento histórico muito ruim para o Brasil, e tenho certeza que se meu pai estivesse ali nada disso teria acontecido. Até porque ele seria presidente do país. O PSB já disse que hoje não tomaria a mesma medida, eu certamente não tomaria. Mas o principal é que o partido já superou isso, e o PT também, ou Lula não teria Geraldo Alckmin como vice — afirma em relação ao ex-tucano, agora filiado ao PSB.

João se orgulha de ter uma foto com 1 ano de idade nos braços do presidente, e de, aos 7, ter matado aula para encontrar o petista na casa de Arraes. Classifica Lula como um personagem de tamanho único no Ocidente: a maior liderança do passado e do presente, além de esperança para o futuro. Conta com este ativo — somado ao imaginário político sobre a família e à bem avaliada gestão na capital — para cativar os pernambucanos em 2026. Ele não confirma ainda se será candidato ao governo, mas sabe que a questão será martelada por jornalistas e apoiadores ao longo do ano.

— O próprio fato de a pergunta ser feita em toda entrevista traz um sinal. Se ela é feita, é porque as pessoas acreditam que o caminho pode ser esse. Mas na política há tempo, há prazo, e o momento não é esse. O ano da eleição é 2026.

Um sinal do desejo de disputar o governo do estado foi a escolha do vice da chapa de reeleição, no ano passado. Victor Marques, que se filiou ao PCdoB, é amigo de João desde o primeiro período de faculdade na UFPE. Assim como o aliado, Marques vem de uma família com histórico político, mas bem mais humilde: o pai foi vereador no município de São José do Belmonte, no sertão pernambucano, terra de pouco mais de 30 mil pessoas.

Durante o primeiro mandato de João, o agora vice e secretário de Infraestrutura, pasta de grande visibilidade, trabalhou como chefe de gabinete. Na prefeitura, sabia-se que, quando se ouvia Victor, deveria se ouvir João. É o braço direito inconteste do prefeito e vem sendo a cada dia mais projetado na rotina municipal, uma forma de ganhar capital político antes de se sentar na cadeira em 2026.

Na próxima eleição estadual, o embate tende a ser entre João Campos e a atual governadora, Raquel Lyra, do PSDB. Há meses, Raquel negocia migrar para o PSD, que corteja o PT no estado a fim de neutralizar a parceria entre Lula e o prefeito. Pesquisa Quaest de dezembro do ano passado mostra João com quase o triplo das intenções de voto a menos de dois anos da eleição: 64% a 22%. O prefeito evita falar tão mal da provável futura rival, mas solta críticas indiretas.

— As pessoas querem resultados. Estamos num tempo em que o simbólico é muito importante, mas o concreto também. Não adianta falar e não fazer. As pessoas querem ver o resultado. Isso faz toda a diferença na hora da indicação de voto. Eleição é comparação.

Nenhuma comunicação é capaz de segurar sozinha uma avaliação de governo tão alta como a dele, afirma João. É preciso ter entrega. Orgulha-se das “três obras por dia em área de morro”, do aumento de vagas em creche e do “investimento recorde ano a ano”, além do monitoramento rigoroso de metas e da digitalização de serviços. A cidade virou de fato um canteiro de obras, sempre com placas chamativas para reivindicá-las politicamente: “Mais uma obra da prefeitura”, “A prefeitura do Recife está trabalhando aqui” e outros avisos do tipo pululam em todo canto.

Os críticos o chamam de “o prefeito moderno, mas que sabe usar a velha lógica de máquina”. No início do ano, houve aumento de 25% no número de cargos comissionados na cidade, com impacto de R$ 65 milhões. Existem mais contratados dessa modalidade na administração municipal do que na estadual.

Duas vitrines do prefeito entraram nos últimos meses no radar do Tribunal de Contas do Estado, que apontou possíveis superfaturamentos e outras irregularidades no Parque da Tamarineira e no Hospital da Criança. A prefeitura afirma que os itens destacados no documento sobre o hospital “estão sendo cuidadosamente analisados, e as informações técnicas necessárias estão sendo levantadas para subsidiar a resposta”. O relator no tribunal é Marcos Loreto, primo da mãe de João. No caso do parque, a gestão rechaça os argumentos do TCE e garante que todo o processo licitatório foi feito de forma correta e até mais econômica do que o sugerido pela auditoria.

Na política, escreveu certa vez a historiadora Angela de Castro Gomes, funerais costumam provocar uma “alegoria às avessas”: ao invés de uma ideia ser dotada de um corpo, um corpo passa a representar uma ideia.

O enterro de Eduardo Campos, em plena campanha presidencial de 2014 e um dia depois de o candidato ser entrevistado no Jornal Nacional, é considerado por muitos em Pernambuco o momento em que a ideia simbolizada por ele não só se imortalizou, como passou a habitar outro corpo.

Diante de toda a dor no funeral, recorda um integrante da família, o mais velho dos filhos homens do ex-governador logo incorporou o papel de herdeiro político. Ao mesmo tempo em que se despedia do corpo do pai, era o único capaz de ter a frieza de cumprimentar os apoiadores que faziam fila para chegar perto do caixão.

— Ali ficou cravado que ele seria o sucessor político da família — afirma o presidente do PSB, Carlos Siqueira, que assumiu o partido até então chefiado por Eduardo Campos.

Foi depois da morte do pai, com Marina Silva encabeçando a chapa e Paulo Câmara concorrendo ao governo estadual pelo PSB, que João fez campanha em palanques pela primeira vez.

— É como se disséssemos que nossa bandeira não ficaria a meio mastro. Meu pai não gostava de nada triste, a última coisa que queria era a família dele de cabeça baixa. Decidimos fazer o que ele faria. Eu nunca tinha feito um comício político, fiz o primeiro 15 dias depois de ele ter falecido. Meu primeiro discurso foi em Caetés, onde Lula nasceu. Em 20 dias, fui a 44 cidades do estado — relembra o prefeito.

Sempre que falam do ambiente da casa nos tempos de Eduardo governador, os olhos dos Campos brilham. Era um permanente evento político, e por lá passaram todas as grandes figuras da República. O pernambucano Lula a visitou sete vezes em um mesmo ano, na esteira de agendas presidenciais no Recife.

O escritor Ariano Suassuna, tio-avô de João, era sempre convidado quando o petista aparecia, e o cardápio incluía clássicos da culinária local: carne de sol, macaxeira, feijão verde e bolo de rolo. Para ajudar a descer a fartura, uísque, o mesmo destilado que João, iniciado na bebedeira apenas aos 23 anos, tem hoje como quitute alcoólico favorito.

Se o pai é a grande referência política, de Arraes João se recorda mais como bisavô do que como figura mítica da esquerda brasileira, o homem cassado pela ditadura que partiu para o exílio e voltou para cumprir outros dois mandatos de governador. O reconhecimento do tamanho do “Pai Arraia” na política pernambucana se deu com o tempo e nas ruas, onde os mais velhos se emocionam quando veem “o netinho de Arraes”.

Pai e filho haviam selado um acordo: enquanto Eduardo estivesse na política, João não disputaria eleições. Na esteira da morte, teve quem incentivasse o então jovem de 20 anos a cobiçar uma cadeira de deputado federal já naquele processo eleitoral, o que exigiria que algum outro candidato da nominata do PSB desistisse. Ele recusou: preferiu terminar a faculdade e esperar quatro anos para se colocar nas urnas.

Formou-se em Engenharia, vocação notada ainda na infância e da qual se vale hoje para detalhar obras da cidade. Quando criança, João andava pela casa dos pais, no bairro Dois Irmãos, com uma caixa de ferramentas para lá e para cá. Gostava de consertar tudo o que via pela frente — incluindo relógios antigos, que desmontava e montava “para entender como funcionava”.

Os slogans de João em campanhas narram a história política que construiu de 2018 para cá. Começou como “filho da esperança” quando concorreu a deputado federal, passou por “a esperança (que) se renova” na primeira vitória para o Executivo municipal e virou, enfim, “meu prefeito”.

A mãe, Renata Campos, costuma contar uma anedota que também ilustra a passagem de bastão na política pernambucana. Diz que era conhecida como a mulher de Eduardo, até que virou a viúva de Eduardo. Agora, é a mãe de João.

João é inquieto. Quando senta para conversar, as mãos se mexem com frequência. Afagam as pernas ou se embrenham uma na outra. Orgulhoso da rotina insana de trabalho, tem como hobby a corrida, que o ajuda a desopilar. Foram duas meias maratonas concluídas no ano passado, mas admite que, desde a reeleição, anda meio “fuleiro” com os treinos.

É teimoso, obsessivo, perfeccionista, exigente, workaholic, e por aí vai — palavras de todos que falam de João, além do próprio. Sobre ele, no entanto, não se ouvem críticas voltadas para o temperamento. Ao contrário do pai, avaliam aqueles que conheceram os dois Campos, não é “temperamental”.

Fora do padrão na política, o prefeito mora sozinho, uma solidão caseira que se dá pela distância física da namorada, a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP). Os amigos que analisam a entrada de Tabata na vida de João, assim como ele mesmo, citam como maior impacto o estímulo ao estudo e a ser mais questionador. Com vidas em cidades diferentes, os dois tentam se ver aos fins de semana, seja em Brasília, São Paulo ou Recife.

João é bisneto, mas na boca do povo virou neto do ex-governador. Neta mesmo é Marília Arraes, a prima de Eduardo Campos que, brigada com o outro lado da família em 2014, sequer foi ao funeral. Seis anos depois, João e Marília protagonizaram uma eleição municipal — ele pelo PSB, ela pelo PT — que rachou os dois núcleos, com ataques na linha da cintura.

Foi Marília quem começou a trocação, mas João, à época com 26 anos, mostrou no segundo turno que, apesar da cara de bom moço, era capaz de acirrar a guerra familiar para vencer o jogo. Chegou a contar com Silas Malafaia, pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e um dos principais líderes religiosos do universo bolsonarista, para pregar voto contra a então petista, hoje dirigente estadual do Solidariedade. Ao mesmo tempo, fez uma campanha em que pintou Marília como alguém de ideias mirabolantes e inviáveis. Deu certo, e o resultado foi uma vitória até confortável: 56% a 44%.

Parte dos ataques cara a cara se concentrou em acusações de corrupção envolvendo os respectivos partidos, que volta e meia se bicam no Recife em busca de protagonismo. Depois que a candidata que carregava o nome Arraes citou operações da Polícia Federal contra o então prefeito Geraldo Júlio, do PSB, o de sobrenome Campos mencionou suspeitas de “rachadinha” no gabinete da prima e disse que “em relação ao PT, não cabe nos dedos das duas mãos quantos gestores presos têm no Brasil”. Declaração impensável para o João de hoje.

A reconciliação entre os primos só veio em 2022, quando o palanque de Lula em Pernambuco fez os dois ficarem frente a frente pela primeira vez desde então, e foi o próprio petista quem intermediou o encontro. Mas, depois daquela traumatizante eleição municipal, a relação entre os Campos e os Arraes nunca mais foi a mesma, a despeito da paz restabelecida.

Hoje, tanto João como Marília têm irmãos com mandatos na Câmara dos Deputados, Pedro Campos (PSB) e Maria Arraes (Solidariedade), ambos orbitando os 30 anos. Em Pernambuco, os dois sobrenomes são uma espécie de passaporte para a política, e Pedro e Maria foram eleitos com mais de 100 mil votos cada em 2022.

João tem ainda outros três irmãos: a única mais velha, Duda, e os mais novos, Zé e Miguel, até o momento sem experiência eleitoral. Ele e Pedro sempre foram os mais interessados nas conversas políticas do pai.

Em maio, o prefeito vai assumir a presidência nacional do PSB, apesar de ainda adotar cautela ao falar da missão, outra que o pai e o bisavô cumpriram por vários anos. À frente da sigla, lidará com a construção do processo eleitoral de 2026, enfrentando pela primeira vez dilemas de outros estados e, sobretudo, impondo pressão para Lula manter Geraldo Alckmin como vice na chapa de reeleição.

— Isso é uma prioridade do partido. Quando fizemos a aliança com Lula, o maior partido a apoiá-lo foi o PSB. Nenhum dos grandes partidos que hoje têm ministérios apoiou Lula — observa. — E tenho certeza que muitos também não coligarão no ano que vem. Isso é uma disfunção, claro que é, mas para resolver não é simples. Hoje o modelo de representação no Congresso quase que exige que isso seja feito.

Insistente na tese de que é preciso “ouvir o povo”, João é há bastante tempo crítico do protagonismo das chamadas pautas identitárias na esquerda. Ainda em 2021, quando começava a se reaproximar de Lula, disse ao GLOBO que “os problemas e as soluções do Brasil não estão nessas pautas puramente identitárias ou ideológicas”, e que era necessário tirar o debate desse campo, no qual o bolsonarismo cresce. Prega que as energias estejam concentradas nas políticas públicas mais amplas.

Outra crítica que fez a parcelas da esquerda, esta diretamente ao aliado Lula, foi à visita pomposa do venezuelano Nicolás Maduro ao Planalto. O episódio exemplifica o que o prefeito considera deslizes do governo que dão munição para opositores desviarem o foco do que importa.

Os casos do passado recente do partido, nos anos de turbulência da política nacional e também nas brigas locais, evidenciam que, a exemplo do pai, João nutre uma relação mais sólida com Lula do que com o PT. Ex-ministro de Ciência e Tecnologia do petista antes de virar governador, Eduardo resolveu, afinal, tentar a presidência contra Dilma.

Quando é perguntado sobre o cenário para 2026 se o atual presidente não disputar a reeleição, o futuro chefe máximo do PSB evita projetar outros nomes e considerar conjunturas.

— Lula é o nome natural, e o que torço e espero é que ele seja candidato — limita-se a dizer.

Sem ter sequer os 35 anos necessários para disputar a Presidência da República, João é considerado a grande aposta nacional do PSB, o elo entre o sonho interrompido de Eduardo Campos e o futuro. Enquanto corta o cabelo — sem “nevar”, ao menos até o próximo carnaval — com Weydson Alves, que vai todo mês à prefeitura prestar o serviço, conversas descontraídas sobre o passado e o horizonte político do prefeito tomam conta da sala, incluindo projeções presidenciais.

Se dependesse de Weydson, fã dos slogans políticos da família Campos, o bordão para a eventual candidatura ao Planalto já estaria definido: “João Campos, a sorte do Brasil”, vislumbra, arrancando o sorriso do prefeito diante de um quadro na parede em que o pai também sorri.

27/01/2025

PSB foi o partido que mais cresceu na esquerda, avalia Carlos Siqueira

Confira abaixo a íntegra da reportagem “PSB de Alckmin, Tabata e João Campos ganha pontos em meio à queda na esquerda”, publicada no site da Folha de S. Paulo, no dia 27/12/2024:

Foto: Aaron Phillipe

O PSB (Partido Socialista do Brasil) foi a sigla da esquerda que mais elegeu prefeitos em 2024. Com 312 eleitos, a legenda ficou à frente do mais tradicional partido da esquerda brasileira, o PT (252 prefeituras), e de outros menores, como PDT, Rede e PC do B.

O resultado representa um aumento de 24% em relação às prefeituras conquistadas em 2020, quando a sigla emplacou 252 dirigentes em Executivos municipais.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, diz ver uma recuperação da sigla, que perdeu espaço depois da morte do então presidenciável Eduardo Campos, em 2014.

“A morte de Eduardo Campos, depois a vitória de [Jair] Bolsonaro e a deterioração política do cenário democrático impactou todos os partidos, principalmente os de esquerda. O PSB tendia a crescer e aí você se depara com um cenário de ameaça à democracia”, afirmou.

Partido do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Empreendedorismo, Márcio França, a legenda tem 14 deputados e três governadores em exercício. No ranking de prefeituras de 2024, ficou na sétima posição. Os primeiros lugares do pódio são ocupados por partidos de direita ou centro-direita, sendo o PSD o grande vencedor, com 887 prefeitos.

O auge do PSB ocorreu em 2012, quando emplacou 444 prefeitos, tornando-se a legenda com maior número de capitais. Nesta época, o partido começou um movimento para lançar candidatura própria à Presidência da República. Em 2013, deixou a base do governo Dilma Rousseff (PT), entregando dois ministérios.

Campos, que na época estava à frente do PSB como presidente, além de governar o estado de Pernambuco, buscou unir o partido em seu plano de candidatura a presidente.

“Sua morte alijou o PSB de sua principal figura, do principal projeto político eleitoral que permitiria ao partido uma projeção nacional que ele não havia conhecido desde a redemocratização. Agora, parece que, com a ascensão de João Campos, o partido recuperou, de certa forma, um norte político mais definido”, afirma o historiador Herbert Anjos, autor do livro “Socialismo e Liberdade – Uma História do PSB”.

Ele diz que, desde os anos 2000, o PSB adotou uma estratégia de crescimento eleitoral que não tinha a questão da afinidade ideológica como central, para ampliar o número de prefeitos e a bancada parlamentar.

A legenda chegou a abrigar figuras conhecidas à direita, como o então presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) Paulo Skaf e o deputado federal Pastor Isidório, no mesmo momento em que faziam parte da sigla o ex-ministro Roberto Amaral e a deputada federal Luiza Erundina, identificados com a esquerda.

Depois da morte de Campos, a abertura para nomes que não eram alinhados à esquerda no espectro político se ampliou.

Ainda, em votações-chave no Congresso Nacional, como a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do Teto de Gastos, o PL (Projeto de Lei) das terceirizações e o impeachment de Dilma, o PSB votou junto aos partidos situados na centro-direita.

A ascensão de Bolsonaro ao Palácio do Planalto foi uma virada de chave e estimulou o retorno ao alinhamento com partidos como o PT. Nas eleições de 2022, aderiu ao que Lula chamou de “frente ampla”, indicando o vice na chapa, Alckmin, ex-tucano.

“A própria força político-eleitoral de Lula exerceu uma forte influência gravitacional dentro da centro-esquerda da qual o PSB dificilmente poderia escapar. Lula era o único candidato com liderança consolidada e densidade eleitoral para derrotar Bolsonaro”, diz Herbert.

Siqueira afirma que o partido é “independente” e continua a discordar de pautas associadas à esquerda, como a questão da Venezuela.

Ainda, no atual manifesto do partido, há uma crítica aos governos de esquerda que comandaram o Brasil. “Mesmo a esquerda – da qual o PSB é parte- não implementou as reformas estruturais necessárias à transformação da sociedade”, diz o documento.

Um trunfo do partido é o desempenho de quadros novos, como o prefeito do Recife e filho de Eduardo, João Campos, e a deputada federal Tabata Amaral (SP).

João Campos, 31, foi reeleito com uma das maiores votações no país (78,1%), em primeiro turno. Tabata, 31, disputou as eleições em São Paulo, e ficou em quarto lugar – mas conseguiu aumentar sua projeção.

“Acho que na esquerda há uma carência grande de novas lideranças, enquanto prolifera na extrema direita figuras expressivas”, diz Siqueira.

Com o fim do mandato em 2025, Siqueira escolheu João Campos como sucessor. O prefeito é tido como de bom desempenho nas redes sociais, ambiente que costuma ser dominado por figuras da direita como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o ex-candidato a prefeito Pablo Marçal (PRTB).

Para oficializar a transição, João Campos precisa ser aprovado em votação pela Executiva Nacional do PSB, que já tem data para acontecer: 30 e 31 de maio de 2025.

O prefeito diz que o papel do partido daqui para frente é “continuar buscando novos caminhos e alternativas para o enfrentamento de velhos problemas”. Citando como exemplo a namorada Tabata, João Campos diz que a nova geração do PSB representa novas práticas e formas de construir a política.

Para a eleição de 2026, o partido precisará superar um obstáculo: aliados de Lula vão pleitear a vaga de vice na chapa, tirando o espaço hoje de Alckmin. Um dos nomes cotados é o do atual governador do Pará, Helder Barbalho, do MDB.

27/12/2024 – Assessoria de Comunicação do PSB Nacional

Sileno se posiciona em defesa do FEM, política dos governos do PSB

Nota em resposta a críticas sobre o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (FEM)

Foto: Wesley D’Almeida

Ao dizer que uma das principais políticas municipalistas dos últimos anos em Pernambuco não deu certo, a governadora Raquel Lyra mostra profunda falta de compromisso com a realidade. Por meio do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (FEM), mais de 870 obras foram concluídas no estado, totalizando mais de R$ 400 milhões em repasses. Só em Caruaru, cidade da qual ela foi prefeita, R$ 9,3 milhões do FEM viabilizaram a entrega de 11 obras de urbanização, pavimentação e drenagem.

Não reconhecer o papel de programas exitosos é prática antiga da governadora. Esse governo não tem noção e não sabe diferenciar o que é uma ação de Estado de uma ação política. Isso é evidenciado quando se encerra programas como o 13º do Bolsa Família e o Mãe Coruja e quando se deixa a CNH Popular se arrastando e o Ganhe o Mundo bastante atrasado. Quando a segurança melhorou em Caruaru, após medidas como a criação do Batalhão Integrado Especializado de Policiamento (Biesp), a então prefeita atribuiu os resultados ao seu programa municipal, que não deu certo lá e nem vem prosperando em sua versão estadual.

Sem ter o que mostrar, a governadora prefere atacar políticas públicas de governos anteriores. É óbvio que as prefeitas e prefeitos vieram ao Recife para ouvir muito mais do que ouviram. Alguns viajaram 700 quilômetros e acabaram vendo slides requentados e sendo apresentados de longe a um secretariado repleto de desconhecidos, ainda que o governo tenha começado há dois anos.

Ser municipalista é ter compromissos efetivos. É promover uma repartição de receita que permita aos municípios a decisão sobre suas prioridades e a possibilidade de se desenvolver e gerar empregos para sua gente, e não apenas convidar prefeitos para uma foto. Que parceria é essa que paralisa a execução de convênios firmados e não renova sequer cessões de servidores aos municípios através de convênios de cooperação?

Este é um governo que não compreende que não existem prefeitos aliados ou adversários. As eleições foram encerradas e só haverá outras em 2026. Até lá, todos têm o mesmo propósito. O fato é que, no lugar do FEM, ao qual todos têm acesso, querem voltar à época do pires na mão, com as prefeitas e prefeitos suplicando auxílio.

A governadora deveria ser mais cuidadosa, pois os diagnósticos de seus assessores sobre o encontro de ontem não condizem com o que se fala fora dos microfones, no Pernambuco real e descontente com sua gestão.

Repito o que disse o prefeito de Garanhuns, Sivaldo Albino, expressando sua indignação: “a montanha pariu um rato!”

Deputado Sileno Guedes
Líder do PSB na Assembleia Legislativa de Pernambuco

03/12/2024 – Assessoria de Comunicação do PSB de Pernambuco

João Campos: “Sonho que as pessoas se aproximem mais da política”

Reeleito aos 30 anos, com 78,11% dos votos, o prefeito de Recife, João Campos, mostra em entrevista ao programa Roda Viva, o porquê de sua enorme aprovação. Diante de uma bancada de jornalistas de veículos nacionais e pernambucanos, João faz análises do cenário político nacional e do resultado das eleições municipais, sobre o desempenho dos partidos de esquerda e o avanço da direita no país.

Para ele, o diferencial nas eleições municipais não está apenas na ideologia, mas no “trabalho” feito em favor das demandas da população. Sem negar a necessidade das lutas identitárias, João destaca a importância de apresentar resultados concretos que melhorem a vida das pessoas aonde elas moram.

O prefeito lembra dos aprendizados que teve com seu pai, o ex-governador Eduardo Campos, conta sobre as experiências e a forma de governar que tem colocado em prática desde o primeiro governo, salienta a necessidade de os políticos estarem em permanente contato com os cidadãos, e dá exemplos de como a escuta apurada dos anseios das comunidades ajuda o gestor a realizar melhor as suas políticas públicas.

Uma das marcas de sua administração, o uso da tecnologia para melhor atender o cidadão, é destacado por ele. “Nossa gestão na Prefeitura do Recife não é três cliques. Ela é zero clique. E isso tem a ver com a garantia de direitos básicos ao cidadão fazendo uso da tecnologia”, afirma, explicando, por exemplo, como o governo de Recife orienta o pai e a mãe a vacinar uma criança de três anos sem que eles precisem dar um único clique no aplicativo do Conecta Recife. A ferramenta coloca Recife entre as cidades que melhor usam a tecnologia no mundo para prestar serviços e informações úteis à população.

Sobre a possibilidade de o PSB formar federação com outros partidos, João diz que o presidente nacional Carlos Siqueira irá liderar as conversas até 2026, mas que trabalha para que o PSB chegue no pleito capacitado para crescer em sua representação parlamentar e em governos mesmo se o novo arranjo não acontecer.

Na entrevista, o prefeito de Recife enfatiza a importância da comunicação digital, mas afirma que o segredo é que o político se mostre “como ele é”, de forma transparente e natural, e que mais do que uma comunicação eficiente o fundamental é ter o que mostrar, ser competente na gestão. Ainda sobre comunicação, ele diz que se preocupa em fazê-la de forma “não-violenta” em suas redes, contrariando a prática da extrema-direita na internet.

Ao final, perguntado sobre se sonha em chegar à presidência da República, responde: “Eu sonho que as pessoas se aproximem mais da política”.

29/10/2024 – Assessoria de Comunicação do PSB Nacional

Carlos Siqueira analisa alianças do PSB no Recife e cenário nacional

Foto: Humberto Pradera/PSB

De passagem pelo Recife, onde esteve para o anúncio do vice na chapa de João Campos, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, falou com exclusividade para a Folha de Pernambuco. Nesta entrevista, afirmou que o acordo para o PT abrir mão da vice do prefeito recifense foi consequência dos demais entendimentos nacionais envolvendo PT e PSB. “Vamos apoiar o PT em cinco capitais”, disse Siqueira, adiantando: “Recife não é uma ilha”.

Acordos partidários não são exclusivos de um estado ou município. Como consequência desse acordo do PSB com o PT no Recife, onde o PSB cedeu também ao PT?

Em muitos lugares. Entre colégios eleitorais expressivos e de porte médio, o PSB está apoiando o PT em cerca de 118 municípios, incluindo cinco capitais: Porto Alegre, Teresina, Fortaleza, Natal e Goiânia. De capitais, o PT nos apoia no Recife, Curitiba e São Luís.

Quem não acompanha o dia a dia da política imagina que Recife é uma ilha, mas as alianças são nacionais…

Esse sempre foi o nosso argumento em todas as negociações. A negociação no Recife com o PSB não poderia ser apenas sobre o Recife, mas sobre o conjunto da relação política eleitoral que mantém o PSB com o PT em todo o País.

Quem entende de política vai nessa direção, mas no caso de São Paulo é verdade que a manutenção da Tabata foi uma exigência do PT, que apoia o Boulos, para provocar um segundo turno?

Não. A candidatura da deputada Tabata foi uma iniciativa dela, que tem todo o direito ser candidata e o partido acha interessante que ela seja candidata. É uma jovem na cidade mais populosa e mais importante do País. Ela decidiu ser candidata e nós apoiamos. Imaginávamos até que houvesse uma pressão para que apoiássemos o Boulos, mas, ao contrário, na reunião que tivemos na semana passada com o presidente Lula, ele mesmo puxou a questão e disse que era importante a candidatura de Tabata. Não foi uma exigência do partido, nem dela. O partido concorda, mas ela quer ser candidata e tem o direito.

No início se especulou que havia pressão, que Lula não estava gostando dessa candidatura de Tabata porque estava prejudicando Boulos. Agora passaram a enxergar a coisa de outra forma?

Eu posso te dizer que há negociações com partidos que processaram mais com a presidente Gleisi Hoffmann, e ela nunca me falou na hipótese de solicitar a retirada da candidatura de Tabata. A única vez que se tocou nesse assunto foi na semana passada, em torno dessa questão do Recife, diretamente com o presidente Lula e com a presidente Gleisi e com a presença de João, da minha e do ministro Padilha. O próprio presidente tocou na questão do direito dela de ser candidata.

Sob o olhar das pesquisas, onde PSB e PT estão bem?

O PT não tem candidato em São Paulo, no Rio também não, e em Belo Horizonte o PT tem um candidato. Lá, nós não podemos apoiar porque tivemos um compromisso com o MDB. O Baleia [Rossi], presidente do MDB, solicitou esse apoio e nós estamos apoiando, mas até o momento não vai muito bem. Se bem que essa questão de pesquisa pode ser alterada até a semana da eleição. Os nossos candidatos de capitais, no caso o PSB, são de primeiro a segundo lugar nas pesquisas. Recife primeiro, São Luís segundo, e Curitiba segundo também, embora, tirando Recife, as outras duas capitais se apresentam como eleições muito difíceis. Uma porque concorre com o próprio prefeito, o caso de São Luís, o outro é porque, no Sul, o ambiente não é dos melhores para a esquerda. Mas são eleições possíveis, não são eleições perdidas, são eleições competitivas, todas elas. Estamos com um quadro com cerca de mil candidaturas; era cerca de 1.128, mas acredito que no final das convenções, algumas composições chegarão a 1.000, 1.050 candidaturas a prefeito no País. O cenário é bom, levando em consideração o histórico de eleições municipais do PSB.

No Recife, há interpretações de que o PT saiu fragilizado quando não emplacou a vice de João. Qual a sua interpretação?

A política é uma questão de correlação de forças. Muitos lugares que o PT, no passado, tinha correlação de forças, estando muito forte em cidades e estados, colocava o titular e o vice do seu próprio partido, porque tinha força pra isso. Não quero dizer que o PT de Pernambuco não tenha força. É um partido que tem deputado federal, tem dois senadores. Mas o prefeito vem fazendo uma administração de muito sucesso e achou desde o início que poderia fazer a sua escolha, e disse isso diretamente ao presidente Lula, sendo muito sincero. O presidente entendeu e o PT teve alguma resistência, mas ao longo do período reconheceram que poderiam ouvir e isso foi muito. Lá em Fortaleza, o PT faz questão que o vice seja do PSB, porque precisa dessa composição. Afinal, o PSB se tornou um partido importante também em Fortaleza e no Ceará.

Há uma leitura de que o presidente Lula facilitou a vida de João Campos, sem fazer nenhum tipo de pressão ou exigência. Será que isso tem ligação com 2026?

Eu não sei se o presidente teve esse raciocínio, mas eu imagino que ele tenha pensado em 2026, em função de ele próprio ser candidato à reeleição, e de ter o apoio não só no Recife do PSB, como teve na eleição passada, mas em todo o País, que é um compromisso natural em função de estarmos no governo, de termos o vice-presidente da República. Eu acho que é natural que ele raciocine que é importante que mantenha o PSB nessa linha de estarmos juntos em 2026. Certamente, se ele for candidato à reeleição, nós estaremos com ele.

Em Pernambuco, Lula também faz gestos com a governadora Raquel Lyra, que está na outra ponta. É possível que Lula queira o apoio de João e da governadora?

Eu tenho a impressão de que a governadora está num partido de oposição, não é? Que inclusive promete ter candidato à presidência da República. Não sei qual vai ser o destino dela, se vai continuar nesse partido que ela participa ou em outro. Porém, o certo é que o PSB está na coligação dele e estará em 2026. Agora, o que vai acontecer com a governadora, seu partido e suas posições, só o tempo poderá nos dizer.

Lula tem dado um tratamento especial a Pernambuco, mas os prefeitos do PSB reclamam que não são bem tratados pela governadora…

Essa relação administrativa independe de partidos. Essa visão de tratar adversários políticos está à altura do cargo que exerce. O presidente Lula, não só nesse governo como nos anteriores, trata os governadores e os prefeitos de uma maneira institucional. Essa é a natureza da relação civilizada das diferentes instâncias do governo. Uma coisa é a disputa eleitoral. Passou a eleição, o governador e presidente são de todos, devem manter uma relação institucional normal.

O prefeito de Garanhuns, do PSB, foi a primeira vítima de Raquel. Ela o tratou muito mal, inclusive no Festival de Inverno do ano passado. Agora, criou um festival para concorrer com Garanhuns. Ele seria o exemplo mais atual dessa relação difícil de governadora com os prefeitos do PSB?

Eu fiquei sabendo disso e achei errado por duas razões: primeiro porque o prefeito é gestor de uma cidade. Quando se tem uma relação e o respeito ao governante do outro partido, se dá, sobretudo, pelo respeito à população que o elegeu. Quando ele se elege, ele representa uma população que precisa ser respeitada. Quando se desrespeita o governante, você está desrespeitando o eleitor que elegeu aquele prefeito e o governador, que eventualmente é discriminado. No caso de Garanhuns, é um festival tradicional, que é de sucesso e não há razão de criar nenhuma concorrência, muito menos discriminar ou deixar de ajudar. É uma obrigação do Governo do Estado, fazendo uma parceria correta – como sempre foi feito nos governos do PSB.

24/07/2024 – Entrevista publicada originalmente pelo jornal Folha de Pernambuco

Prerrogativa para a escolha do candidato a vice é do prefeito João Campos, afirma Sileno

Sileno Guedes, deputado estadual e presidente do PSB-PE

Foto: Wesley D’Almeida/Arquivo

O líder do PSB na Assembleia Legislativa, Sileno Guedes, defende a extinção das faixas salariais sem escalonamento na Casa Legislativa. Além disso, ele ressalta a aproximação entre o PSB e o presidente da Alepe, Álvaro Porto. Sobre as eleições deste ano, ele reforça a liderança do prefeito do Recife, João Campos, e defende suas prerrogativas para construir o arco de alianças da Frente Popular.

FAIXAS SALARIAIS

Em primeiro lugar, preciso dizer que, nas duas comissões em que pude dar o meu voto sobre esse assunto, votei para que a extinção das faixas salariais ocorresse já agora em 2024 ou, no máximo, até 2025, seguindo um brilhante relatório do deputado Diogo Moraes na Comissão de Finanças, que depois foi incorporado a um substitutivo da deputada Gleide Ângelo aprovado na Comissão de Segurança Pública. Estamos em busca de garantir os votos necessários também no plenário, não para atrapalhar o governo ou quem quer que seja, mas para atender o anseio que os policiais e bombeiros militares têm externado.

ORIGEM

A bancada do governo nos acusa de ter criado as faixas em 2017 e quer levar o debate por aí. É preciso dizer que aquele era um outro momento. O Brasil vinha tentando sair de uma crise econômica e a gestão do então governador Paulo Câmara fez um esforço muito grande para manter Pernambuco de pé em um momento em que estados ricos, como Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, parcelavam salários de servidores. Foi aquela negociação em 2017, que partiu dos comandantes e terminou bem-sucedida, que evitou uma greve da Polícia Militar. É bom lembrar que, em 2014, no Governo João Lyra, os pernambucanos viveram dias difíceis por causa de uma greve. Quem não se lembra dos saques em Abreu e Lima? O governo do PSB conseguiu evitar a repetição daquilo em 2017. E em 2022, deu um aumento salarial para os servidores, inclusive os da segurança. Hoje, o momento é outro. É o Governo Raquel Lyra que diz que tem dinheiro para tudo.

ÁLVARO PORTO

É preciso separar essa questão em dois vieses. Do ponto de vista partidário e eleitoral, temos, sim, uma aproximação com o deputado Álvaro Porto em vários municípios onde o PSB e o Republicanos caminharão juntos. Ele escolheu o Republicanos como partido que teria a preferência para acolher seu grupo político e, nesse sentido, temos parcerias e apoios anunciados. Já na Assembleia Legislativa, não é uma questão de atrapalhar um determinado governo ou se aliar a outro. O presidente Álvaro Porto tem se comportado de maneira muito institucional, dando ao Poder Legislativo um destaque no debate das pautas que chegam do Executivo e vem assegurando que todos os distintos posicionamentos tenham seu espaço. A questão é que, como o atual governo se pauta pela falta de diálogo, fica a sensação de que o Legislativo é que é do contra. E não é verdade. O presidente Álvaro Porto tem o respeito e a consideração de todos nós deputados pela postura que tem tido.

JOÃO CAMPOS

O prefeito João Campos é pré-candidato no Recife. Sua preocupação é seguir governando o Recife, realizando entregas e, na hora da campanha, ele vai apresentar à população o que foi feito e novas propostas para os próximos quatro anos. O prefeito João Campos é a maior liderança do nosso partido em Pernambuco e um nome que tem projeção nacional. Se eu fosse candidato agora em 2024, eu também desejaria ter uma foto dele comigo e uma declaração dele dizendo que me apoia. Então, é natural que, em muitos municípios, nossos pré-candidatos digam que são do mesmo partido de João Campos, que é o melhor prefeito do Brasil e uma vitrine do nosso modo de governar. E é mais natural ainda que se faça o contraponto com pré-candidaturas que são apoiadas pelo Governo de Pernambuco.

VICE

A escolha do vice é muito particular de qualquer candidato a prefeito, governador e presidente. Nessa fase pré-eleitoral, é legítimo que qualquer partido que já faz ou pretende fazer parte do arco de alianças que disputará as eleições conosco apresente indicações para compor a chapa majoritária da Frente Popular. O debate que é feito em torno disso é muito mais nas rodas de conversa e na imprensa, o que passa essa ideia de urgência, de necessidade de sinalizações. Mas sempre temos dito que o prefeito tem tempo. As convenções ocorrerão até agosto. E ele é o condutor desse processo e desse debate, como grande coordenador de seu projeto de reeleição. É uma prerrogativa dele fazer essa escolha e, no momento certo, dentro do prazo, vai ser feita essa definição.

06/05/2024 – Entrevista publicada na Folha de Pernambuco

Tadeu: Missão a mim confiada foi exercida com muita responsabilidade

Secretário nacional de Segurança Pública encerra missão no Ministério da Justiça após 13 meses de trabalho

Foto: Divulgação

O secretário nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar (PSB), deixará hoje o Ministério da Justiça, juntamente com o ministro Flávio Dino, que tomará posse no Supremo Tribunal Federal no dia 22 de fevereiro. Em entrevista ao Diario de Pernambuco, ele faz um balanço das ações realizadas ao longo dos 13 meses em que comandou a área de segurança pública do Governo Lula.

Tadeu ressaltou que o primeiro esforço realizado na área de segurança foi acabar com a fragmentação federativa deixada pelo Governo Bolsonaro. “Foi um momento muito desafiador”, enfatizou, acrescentando que a primeira medida foi “dialogar intensivamente com os estados para que nós pudéssemos pensar numa política nacional de segurança pública com responsabilidades compartilhadas entre o governo federal e os governos estaduais”.

De acordo com o secretário nacional de Segurança Pública, as facções criminosas modernizaram a sua atuação, se articularam, se sofisticaram. “São organizações hoje com tentáculos de ordem global. São, portanto, facções criminosas transnacionais”, frisa. Por isso, segundo ele, é fundamental ter uma atuação integrada, uma atuação fortemente federativa.

Nesse sentido, foi lançado em outubro do ano passado o Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas, um dos desdobramentos do Plano de Ação na Segurança (PAS), assinado em julho pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com investimento de R$ 900 milhões, o programa  tem cinco eixos: integração institucional e informacional; aumento da eficiência dos órgãos policiais; portos, aeroportos, fronteiras e divisas; aumento da eficiência do sistema de Justiça Criminal; e cooperação entre os entes, visando enfrentar problemas estruturais como vulnerabilidade de fronteiras e divisas, transnacionalidade do crime, deficiência na recuperação de ativos, baixa integração e deficiência estrutural das polícias.

Tadeu salienta que é através de ações de inteligência que se consegue desarticular a poderosa conexão das facções criminosas que têm um poderio bélico, que ganhou musculatura com a política irresponsável de flexibilização de armas do Governo Bolsonaro e, de outro lado, a musculatura financeira, que dá uma grande capacidade de ação através da lavagem de dinheiro. “Só se consegue desarticular essas organizações criminosas com informação de qualidade, integração e inteligência”, pontua.

O secretário salienta também que “o crime organizado afeta a economia global e, nos países em desenvolvimento, é muito grave, porque chega a afetar a própria democracia, porque muitas vezes é desafiada a autoridade do Estado”, lembrando a crise no Equador.

 

Fragmentação federativa

Quando assumimos a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, encontramos, assim como em todas as outras áreas do governo federal, uma fragmentação muito grande da relação federativa. A gente viu o presidente da República anterior entrar num contencioso permanente com os governadores na época da pandemia, numa coisa absolutamente sem sentido. O Brasil é um país gigantesco, que tem um modelo federativo de responsabilidades compartilhadas. O presidente, que é a maior autoridade do país, ao invés de se associar aos governadores para resolver os monumentais problemas que tem o país, sempre viveu uma relação de agressão, de contencioso, absolutamente histérico. Então, o primeiro esforço que nós fizemos, em matéria de segurança pública, foi acabar com essa fragmentação federativa, que era muito grave. Foi um momento muito desafiador. Em 2022, nós ainda tivemos quase 50 mil mortes violentas intencionais, indicadores realmente muito preocupantes, uma pequena redução em relação a 2021 de 0,2%. Então, o primeiro esforço nosso foi dialogar intensivamente com os estados para que nós pudéssemos pensar numa política nacional de segurança pública com responsabilidades compartilhadas e o papel do governo federal nessa responsabilidade coletiva e compartilhada. Então, nós iniciamos um diálogo muito forte, intensivo, com os secretários de segurança de todo o país. Em janeiro de 2023, ainda vivenciando aquele momento difícil do 8 de janeiro, nós estávamos nos reunindo com todos os secretários de segurança para dizer que a diretriz política do presidente da República e do ministro da Justiça era que nós trabalhássemos em parceria, porque essa fragmentação federativa era incompatível com o tamanho do desafio. As facções criminosas modernizaram a sua atuação, se articularam, se sofisticaram. São organizações hoje com tentáculos de ordem global. São, portanto, facções criminosas transnacionais. É muito importante que a gente possa ter uma atuação integrada, uma atuação fortemente federativa. E foi isso que a gente passou a fazer já a partir de janeiro. Então, temos um diálogo muito fecundo com todos os secretários de Segurança, independentemente, da posição política desses estados. Essa foi a diretriz e nós cumprimos prazerosamente.

 

Atuação integrada

A política é uma atividade nobre, tem o seu espaço no parlamento, no momento das eleições, mas depois disso é o momento da gestão pública e não há sentido nenhum em que, principalmente em áreas sensíveis como a segurança, que a gente pudesse estar submetendo ou condicionando as ações do governo federal a conveniências de ordem política para privilegiar os aliados e prejudicar aquelas composições divergentes do ponto de vista do apoio político. Então, isso foi uma coisa muito valiosa que nós efetivamente construímos. Se você  procurar conversar com secretários de Segurança de qualquer estado, eu digo com muita tranquilidade isso, não é com nenhum arroubo retórico, mas é a convicção de que nós conseguimos construir esse ambiente de forte articulação federativa e nós demos os exemplos. A gente teve autoridade política para ter esse relacionamento articulado do ponto de vista federativo, procurando solver essa fragmentação. Isso concorreu para que hoje a gente tenha o melhor ambiente possível. Disse isso numa reunião que tivemos com o ministro Flávio Dino, o ministro Lewandowski, todos os secretários nacionais do Ministério da Justiça e parte da nova equipe, porque não está totalmente constituída. E quando eu fui me pronunciar, destaquei exatamente essa necessidade de que esse relacionamento federativo, articulado, integrado, não só continue como se aprofunde, porque é dessa integração que a gente pode responder a uma ação criminosa violenta, que não é mais um problema de um estado ou de outro. Você vê que as facções não estão mais nos estados tradicionalmente onde elas se instalaram ao longo do tempo. Elas hoje estão espalhadas no Brasil inteiro. Então, a resposta do Estado tem que ser integrada. Tem que ser integrada porque com a integração você tem unificação de base de dados, informação de qualidade, articulação através de mecanismos de atuação com os órgãos de inteligência que permitem você ter ações repressivas também, já que a ostensividade da polícia precisa responder ao desafio do momento, mas é através de ações de inteligência que você consegue desarticular a poderosa conexão das facções criminosas que têm um poderio bélico, que ganhou musculatura com essa política irresponsável de flexibilização de armas e, de outro lado, a musculatura financeira que dá uma grande capacidade de ação através da lavagem de dinheiro, inclusive em atividades supostamente regulares, mas financiadas com o dinheiro do crime através do mecanismo da lavagem de dinheiro, que você só consegue desarticular se tiver informação de qualidade, integração e inteligência. Então, isso foi uma iniciativa que eu tenho convicção de que nós avançamos bastante.

 

Regulação de armas

Fizemos uma regulação responsável de armas. Já no primeiro dia do governo do presidente Lula, ele editou um decreto e deu essa responsabilidade ao Ministério da Justiça. E essa atividade foi executada, foi exercida, pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), através da minha coordenação à frente de um grupo de trabalho que tinha as representações de poderes, da magistratura, dos conselhos nacionais de justiça e do Ministério Público, a participação das Forças Armadas e da sociedade civil também. E fizemos um debate muito fecundo, mas com muita firmeza, porque a política de armas do governo anterior foi totalmente inconsequente. Você podia ter 60 armas e metade delas ser fuzis só porque você era um CAC. Isso permitiu que parte desses arsenais migrasse para exatamente as facções criminosas. Era uma aquisição não só irregular, mas também criminosa, porque o uso que seria feito daquele armamento seria o uso exatamente para essa criminalidade violenta. Então, certamente os efeitos dessa política de flexibilização vão ser sentidos por alguns anos, porque você teve um crescimento exponencial das armas, dos clubes de tiro, das lojas que vendiam armamentos. Claro, tem as pessoas que praticam desportivamente o tiro, a caça e o colecionismo, mas essa flexibilização que permitia o sujeito ter 60 armas, metade de uso restrito, era a mesma que permitia um clube de tiro funcionando 24 horas e o sujeito de madrugada com a ponto 40 ou a 9 milímetros na cintura, bebendo num bar, dizendo que estava indo ou voltando de um clube de tiro. E sem sequer exigir habitualidade. Então tinha gente que se filiava a um clube de tiro, adquiria essas armas e não cumpria habitualidade nenhuma, ou seja, não tinha nada nem de colecionador, nem de caçador, nem muito menos de atirador desportivo. Acho que a regulação foi outra iniciativa muito importante.

 

Crime organizado

Um terceiro destaque que eu daria na atuação do Ministério da Justiça na área de segurança nesse primeiro ano do Governo Lula foi exatamente a gente compreender que o crime organizado se aperfeiçoou, sofisticou a sua atuação e ele não pode mais ser enfrentado apenas com mecanismos repressivos voltados a você tirar de circulação uma liderança criminosa enquanto no dia seguinte já tem alguém no lugar. Quanto mais pessoas que estão nas ruas matando sejam tiradas de circulação, claro que se estará dificultando a logística do crime e também diminuindo essa criminalidade violenta, principalmente as mortes violentas intencionais. Mas era preciso uma reflexão mais profunda de que esse enfrentamento tem que se dar no plano repressivo, claro, mas também do ponto de vista estratégico da estruturação de um combate às organizações criminosas que possa de fato descapitalizá-las e dificultar a sua logística. Porque se você mantiver apenas a repressão, o poder da criminalidade é muito sedutor. Ele corrompe agentes públicos, ele seduz a juventude na ausência do Estado, ele coopta presos, em razão da superpopulação nos presídios do país e do fato de não haver segregação entre quem cometeu uma criminalidade de grande potência e uma infração de menor potencial ofensivo. A falta de segregação desse tipo de conduta criminosa faz com que alguém que cometeu uma infração de menor potencial ofensivo seja absorvido para essas facções. É o chamado batismo que ocorre dentro das unidades prisionais. Então, nós começamos a pensar e a refletir sobre a necessidade de que o governo federal e a Senasp instituíssem um Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas, que não havia antes. Nós apresentamos o programa primeiro aos secretários de Segurança, depois aos comandantes gerais das polícias de todos os estados, porque esse diálogo federativo que nós fizemos não nos limitamos a fazer só com os secretários. Nós fomos aos colegiados que reúnem os comandantes gerais, os delegados gerais de polícia, os peritos e até as guardas municipais, porque o Sistema Único de Segurança Pública tem um papel diferencial do município, mas tem um papel na iluminação, de proximidade, que é o papel da guarda municipal, que é voltado a inibir a criminalidade de pequeno porte, mas obviamente que na hora que a cidade é bem cuidada, tem gestores que tratam o problema da segurança pública através de um Conselho Municipal de Segurança, bem equipada, entendendo que o seu papel não é o de substituir a Polícia Militar, mas é de ter uma atuação policial de proximidade, nas pequenas, médias e até nas grandes cidades. É um papel que pode ser exercido, inclusive, sem armamento letal, que é o ideal para o tipo de atuação que tem as guardas municipais.

Então, nós fizemos reuniões com todos esses colegiados que reúnem as forças de segurança exatamente para mostrar a importância desse programa. Ouvimos também especialistas. O promotor Lincoln Gakiya foi responsável pelo encaminhamento. Nós conversamos com todos esses colegiados e, no dia 3 de outubro do ano passado, lançamos o Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas, que tem cinco eixos, que tratam da chamada desfragmentação informacional, ou seja, cada estado, e, às vezes, dentro do próprio estado, a Polícia Militar tem uma informação que não é compartilhada com a Polícia Civil e vice-versa, o que faz com que essa desfragmentação informacional leve a  uma atuação igualmente fragmentada, do ponto de vista dos inquéritos e até da resolutividade desses inquéritos.

 

Portos e aeroportos 

No que diz respeito ao eixo sobre portos e aeroportos, divisas e fronteiras, nós vimos que quando havia apreensão de drogas nos aeroportos, que são ambientes razoavelmente controlados, eram quilos de droga, mas quando eram nos portos eram toneladas. No Litoral de Pernambuco, uma atuação da Polícia Federal com a Marinha do Brasil fez uma das maiores apreensões já realizadas no litoral pernambucano de 3,6 toneladas de cocaína. Esse eixo trabalha a necessidade de você modernizar tecnologicamente o controle nos portos e nas fronteiras.

 

Eficiência das polícias 

Em relação ao eixo sobre o aumento da eficiência das forças policiais, estamos equipando bem as nossas polícias. Não é possível enfrentar uma criminalidade potente que usa viatura blindada, que usa explosivos, que usa armamento pesado, com um polícia que, às vezes, não tem nem uma viatura para se locomover. A realidade geral do Brasil ainda é de muita carência do ponto de vista da capacidade operacional. Então era importante que a gente pudesse ter uma polícia bem aparelhada, bem equipada.

 

Justiça criminal 

Outro eixo é a necessidade do aumento da eficiência da justiça criminal. Não é possível mais que uma liderança de uma facção criminosa que foi presa uma vez, duas vezes, três vezes, continue sendo colocada nas ruas, seja por falta de um aperfeiçoamento da legislação processual penal, mas também muitas vezes por uma interpretação equivocada e, às vezes, até dissociada da necessidade de que se trate lideranças de facções criminosas diferentemente daqueles que cometem pequenas infrações, que devem ser responsabilizados, mas não podem receber o mesmo tratamento do sistema de justiça criminal de alguém que reconhecidamente lidera uma organização que promove um verdadeiro estrangulamento do crescimento do país. Recentemente, vimos um grito de socorro do prefeito de uma das mais importantes cidades do país, do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, dizendo que uma empresa contratada para fazer um serviço público para a prefeitura estava sendo chantageada por uma facção criminosa. Não é só uma questão de mudança de legislação, é uma mudança de atitude. Nós vimos em um dado estado do país, num domingo à noite, num plantão judiciário, um magistrado que deu uma decisão autorizando que uma liderança reconhecidamente criminosa, integrante de facção, fosse colocada em prisão domiciliar para cuidar de um filho autista. No dia seguinte, o relator do processo, o originário, não o plantonista, reconsiderou aquela decisão e, quando foram atrás, ele já tinha sido liberado. Falando de forma geral, não relativamente a uma situação ou outra, o poder de manipulação dos organismos estatais pelo crime organizado é muito grande. E aí qual é a novidade? É que na mesma semana o Conselho Nacional de Justiça, numa decisão unânime, suspendeu esse magistrado. Isso é uma novidade. Não que esses órgãos não tenham ao longo do tempo agido, mas às vezes agem no seu próprio tempo e a providência acontece com um certo retardo e essa pronta resposta é cobrada pela sociedade, com uma compreensão de que esse tipo de atitude tem que ser forte e firmemente reprimida, eu acho que é uma atitude nova e uma grande contribuição do sistema de justiça criminal nesse enfrentamento.

 

Problema global 

E, finalmente, como mais um eixo desse programa, você tem o da integração no plano internacional. O crime organizado não é um problema só de um Estado federado do país, também não é um problema só do Brasil. E, portanto, há que se ter articulação e integração de ordem local, regional e global. Porque na América Latina, nós fazemos fronteira com os maiores produtores de droga do mundo. Temos fronteira com a Colômbia, temos fronteira com o Peru, temos fronteira com a Bolívia. Em Tabatinga, no Amazonas, onde eu fui, por mais de uma vez, dialogar com aquele ambiente, você anda alguns passos e está em Letícia, na Colômbia. Atravessa o rio, você está em Santa Rosa, no Peru. O Alto Solimões é um desaguadouro dessa droga que vem dos países produtores. O Brasil é um país grande consumidor, um dos maiores do mundo, mas é também reconhecidamente um país que é de passagem, que é rota do tráfico internacional de droga. Então, é necessário você ter uma ação robusta, potente, articulada com a presença da Polícia Federal em parceria com as polícias estaduais nas nossas fronteiras, com a participação das Forças Armadas e também você detectar através de mecanismo de inteligência qual é essa rota, porque nós estamos vendo sair a droga que entra pelo Amazonas, por Belém. Percorre esse roteiro e, às vezes, é exportada por portos do Nordeste, seja pelo Porto do Maranhão, do Ceará, seja pelo Porto de Suape. Então, você tem realmente aí a necessidade de uma articulação de ordem global. Não é um problema só do Brasil, mas também dos grandes consumidores, como a Europa e os Estados Unidos. É um problema de ordem global. Isso afeta a economia e, nos países em desenvolvimento, é muito grave, porque isso chega a afetar a própria democracia, porque é desafiada a autoridade do Estado.

 

Amazônia

Na Amazônia, você tem uma conexão de criminalidades exatamente por uma conjunção de fatores, inclusive interesses econômicos. É um extraordinário patrimônio natural, é um patrimônio onde a baixa circulação de pessoas dificulta a presença do Estado. Baixa circulação porque é selva, é floresta. Nessa fronteira com os países produtores, há essa conexão de criminalidades, tráfico de droga, tráfico de arma, tráfico de pessoas, garimpo ilegal, extração ilegal de madeira, grilagem de terras, prostituição infantil, ou seja, o Estado de tal maneira tem a sua presença reduzida e a criminalidade se expande na exata medida da ausência do Estado. Quer dizer que os estados da Amazônia Legal não estão atuando? Não, mas é necessária uma atitude diferente e é, por isso, que foi lançado um programa também que eu quero destacar, o AMAS. Ele foi lançado pelo presidente Lula no dia 21 de julho, no Palácio do Planalto. O programa foi coordenado por nós aqui no Ministério da Justiça, e se chama Amazônia com Segurança e Soberania. Ele vai investir, nos próximos dois anos, R$ 2 bilhões nos nove estados da Amazônia Legal, instalando 34 bases fixas e fluviais, instalando o Centro Internacional na cidade de Manaus, coordenado pela Polícia Federal, e também com aquisição de aeronaves, embarcações blindadas, armamento adequado para o enfrentamento dessa criminalidade e modernização tecnológica nos portos do país.

 

GLO

No dia 6 de novembro de 2023, nós instalamos a Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nós já estávamos com a presença da Força Nacional, da Polícia Rodovia Federal, da Polícia Federal. Todos os dias a gente está vendo ações desses órgãos do governo federal, do Ministério da Justiça, agindo de maneira articulada, mas as operações da GLO em portos e aeroportos do Rio e São Paulo já conseguiram a apreensão de R$ 48 milhões em ativos ilícitos. E isso só consolida a nossa convicção de que é preciso ter uma ação coordenada e aprofundada nesses ambientes e também na fronteira com o Paraguai, no Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, porque no Lago de Itaipu também tem uma ação criminosa muito robusta, principalmente voltada à entrada de cigarros contrabandeados, falsificados, grande quantidade de maconha, de skank.

 

Prevenção e repressão

Nós fizemos uma operação em 12 estados que respondem por 60% da criminalidade violenta, com números de 2022, e nesses estados aplicamos R$ 100 milhões em quatro meses para que a gente tivesse uma melhoria na atuação da polícia. Mais policiais nas ruas, melhorando a qualificação também dos inquéritos que vão sendo instruídos muitas vezes sem informação de qualidade, de modo que há muitas iniciativas que certamente começaram a fazer a semeadura de uma política nacional de segurança pública e de segurança pública com cidadania, o PRONASCI, que é um programa muito importante, que trabalha na dimensão preventiva da segurança, porque é claro que a ostensividade e a repressão qualificada é uma necessidade. Mas não podemos esperar um belo dia ter um país rico, desenvolvido, com a quantidade adequada de agentes públicos com educação e tal, se a gente não se preocupar com indicadores de criminalidade mais controlados e, por isso, tem que ter ação imediata, também numa dimensão preventiva, que é a atuação nos territórios degradados, nas zonas periféricas do país. Essa criminalidade atinge principalmente a juventude negra. Então, é necessário ter políticas culturais, educacionais, e de formação também de uma polícia que trabalhe com o respeito aos direitos humanos, que seja eficaz, que seja enérgica quando necessário, mas primando pela observância da lei e pelo respeito aos direitos humanos. E, por isso, por meio do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, distribuímos 1.429 viaturas Brasil afora. Distribuímos mais de R$ 1 bilhão do Fundo Nacional de Segurança Pública para os estados.

 

Sistema prisional

Eu acho que está provado que o puro e simples encarceramento não é uma medida adequada, porque você tem que trabalhar com a possibilidade de que delitos de menor potencial ofensivo possam ter a responsabilização de ordem penal feita de outra maneira, com penas alternativas, com prestação de serviços, de modo que você possa minimamente pensar em ressocializar o preso ou aquele que cometeu uma infração penal. Essa política de encarceramento em massa só concorre para que alguém que cometeu um delito de menor potencial ofensivo em contato com lideranças criminosas seja cooptado pela criminalidade violenta. Então, esse modelo está visto que é ineficaz. Nós temos uma das maiores populações carcerárias do mundo e às vezes achamos que a única saída é construir presídios. Mas, ao mesmo tempo, você não pode deixar de ter ampliação de vagas no sistema prisional para que exatamente se possa ter essa segregação, ter penitenciárias estaduais, que sejam de segurança máxima.

Porque, às vezes, o que acontece? Você pega um criminoso que cometeu uma infração mediana, coloca ele no sistema prisional em contato com uma liderança criminosa, isso vira uma escola do crime. Então, eu acho que tem que ter um conjunto de medidas associadas, ampliação de vagas, mas em modelos que guardem dignidade para os presos, claro, mas deve haver alas para quem cometeu delitos de baixo potencial ofensivo e alas de segurança máxima que sejam reservadas àqueles que precisam ter realmente um isolamento, para exatamente não ter novos soldados para o crime. Além do que, claro, investir também na ressocialização. Nós temos experiências como lá no presídio de Pedrinhas, no Maranhão, que enfrentava uma crise gravíssima e que, através de mecanismos de gestão do governo do então governador Flávio Dino, conseguiu implantar programas de recuperação de egressos do sistema, com a fabricação de móveis escolares, de fardas, de blocos de concreto para fazer pavimentação de ruas, ou seja, é uma conjugação de elementos e investimentos na ampliação de vagas. Uma  mudança dessa visão de que encarceramento resolve tudo. Não é razoável de tempos em tempos se fazer uma varredura nos presídios e encontrar pistolas, revólveres, armas, chuços, celulares. Então, tem que ter mecanismo também de modernização tecnológica para ajudar a controlar. Eu acho que é muito importante que, a partir do sistema prisional, nós tenhamos segregação clara, que tenhamos um foco das polícias judiciárias, das polícias civis, em inquéritos que trabalham a questão da lavagem de dinheiro e da recuperação de ativos para que a gente vá descapitalizando essas organizações e mudando, atrapalhando e dificultando a sua logística, que isso é que diminui realmente essa ação criminosa. Temos a esperança de que possamos cada vez mais dificultar a ação criminosa, principalmente a ação criminosa violenta, que tira a vida de milhares de brasileiros e brasileiros.

 

Conselho Nacional 

No final do ano, nós reinstalamos o Conselho Nacional de Segurança Pública, que é muito relevante, e foi praticamente ignorado pelo Governo Bolsonaro. Tem as instâncias estatais, mas tem representações da sociedade civil, de outros poderes também. Foi uma iniciativa muito importante, porque ali é o ‘lócus’ de debate sobre a política de segurança e tudo isso está conectado com os resultados dessa política responsável de armas, ora implementada. Tivemos uma redução de quase 80% em novas armas de fogo no ano de 2023. Nós fizemos muitas operações integradas também sobre violência contra a mulher, sobre violência contra crianças e idosos, contra a violência nas escolas. Lançamos editais para aparelhar as guardas municipais, as patrulhas Maria da Penha e as delegacias de mulher, para estruturar as redes de delegacias especializadas, os Departamentos de Repressão ao Crime Organizado, os Departamentos de Repressão ao Narcotráfico. Também estruturamos a rede de recuperação de ativos em todos os estados para que o dinheiro dessa criminalidade organizada seja apreendido pelo poder público e possa ser reinvestido no equipamento das nossas polícias. Lá na Amazônia, nós destruímos mais de 750 balsas garimpeiras ilegais. Teve também atuação no sistema prisional para evitar que uma liderança criminosa de dentro da prisão, só pelo uso do celular, comande a criminalidade fora dos presídios, fazendo operações para a retirada de dezenas de milhares de celulares nessas unidades prisionais. Apoiamos também estados como Pernambuco, através da Secretaria de Políticas Penais, para ajudar a melhorar o sistema prisional a ter mecanismo de padronização, que aumente o controle. Por que tem armas e celulares dentro dos presídios? É claro que tem um agente público facilitando isso. Essa é uma realidade em todo o Brasil. Então, foi feito um trabalho conjugado também com os estados para melhorar o controle nas unidades prisionais. Os números da GLO no Rio de Janeiro e São Paulo em portos e aeroportos e no Paraná, Mato Gosto e Mato Grosso do Sul são muito animadores se refletindo também numa redução da criminalidade violenta do CVLI no ano de 2023 de quase 5%, enquanto de 2022 para 2021 foi de 0.2%. Claro que não é aquilo que a gente gostaria de reduzir, mas nós saímos de uma redução de 0.2% para em torno de quase 5% em 2023, o que mostra que mesmo desafiando aqueles que diziam que o aumento de armas aumenta a segurança, nós diminuímos 79% da circulação de armas e reduzimos significativamente os indicadores de criminalidade violenta e também as mortes decorrentes de intervenção policial, o que mostra que é acertada a política de reduzir a circulação de armas.

 

Equador

O Equador é um país muito diferente do Brasil no tamanho, na população, na economia. Então, não se compara o Brasil e o Equador. As fragilidades no Equador são muito maiores, mas decorrentes inclusive de que as políticas de segurança pública, de prevenção, urbanismo social, a pactuação ali com as FARC na Colômbia terminaram fazendo com que o tráfico procurasse rotas alternativas para a sua circulação de drogas. E exatamente o Equador e o México foram países para onde migraram essas rotas do tráfico internacional. Então, isso certamente é algo que a gente precisa prestar atenção. Guayaquil funciona como um ponto de centralidade através do porto daquela cidade. As operações criminosas ganharam robustez, potência. É claro que pelo tamanho do Brasil nós não estamos na iminência de uma crise grave como a do Equador, mas localizadamente nós já temos territórios, cidades e estados importantes do país, com partes de seus territórios já são tomadas ou pelo tráfico ou pelas milícias. Então, isso é preciso prestar atenção, tem que ter um esforço nacional. E volto a dizer, isso é responsabilidade coletiva. Não há como se dizer que a União não tem responsabilidade nisso. Tem. E os estados também têm, os municípios também têm, o setor produtivo também tem. Tanto é que lá no Rio de Janeiro nós tivemos diversas reuniões, com o ministro, sem o ministro, na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, com os segmentos econômicos preocupados em ajudar o Ministério da Justiça a estabelecer mecanismos de aumento da governança pública, de integração de câmeras de shopping centers, de integração de diversos sistemas para possibilitar o aumento da eficiência do aparato de Estado. Eu acho que a gente não vive na iminência de uma crise grave como no Equador.

Mas, se a gente não prestar atenção na gravidade do que estamos enfrentando, certamente nós vamos amargar desafios muito mais preocupantes do que o que estamos enfrentando hoje. E volto a dizer, a expansão das facções criminosas, seja para a Amazônia, para os estados do Norte e para os estados do Nordeste, que é a região mais pobre do país, mostra que em qualquer estado você vai ter sintomas da atuação de facções criminosas, ora locais, ora essas facções locais se associando a facções transnacionais para sua ação criminosa. Então, não dá para ignorar, não dá para reagir a essa situação grave com os mecanismos que sempre foram utilizados, apenas com repressão, apenas com atuação isolada de um estado ou de outro. É preciso se ter compreensão da gravidade do problema e atuação integrada cada vez mais trabalhando com inteligência. É isso que vai fazer com que a gente reduza fortemente a ação desses grupos criminosos.

 

Compaz

Tivemos uma iniciativa também muito relevante que é a nacionalização do Compaz de Pernambuco e da Usina da Paz do Pará como programa da área de segurança pública. A ideia é pegar uma área degradada e requalificá-la para ser utilizada pela população pobre de uma cidade, com indicadores de criminalidade elevados, onde tenha educação, cultura, música, aulas de robótica, de matemática, de computação, de dança. A experiência do Compaz no Recife é extraordinária. São equipamentos que oferecem serviço público e que oferecem também um tratamento digno para a população, certamente diminuindo os índices de criminalidade naquela zona degradada. É essa experiência que trouxemos para o governo federal, que ganhou o nome de Convive, com as adequações necessárias e que integram o novo PAC.

 

Segurança em Pernambuco

Pernambuco vem amargando indicadores que são preocupantes. Eu tenho dialogado com o secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, em especial, mas me reuni várias vezes, visitei o Porto de Suape, conversei com a então secretária Carla Patrícia. Pernambuco foi um dos estados que participou dessa operação Paz, com resultados animadores, mas tem um desafio muito grande. Nós temos uma experiência acumulada com o Pacto pela Vida, que ainda é um dos melhores processos de trabalho em gestão por resultados do Brasil. Claro que nós queremos que as políticas que estão sendo aplicadas pela governadora Raquel Lyra tragam resultados, não torcemos contra absolutamente. Nós sempre estivemos à disposição de Pernambuco. Eu não poderia estar aqui representando o meu estado e não querer que deem certo as políticas de segurança. Agora, é um desafio muito grande. Alguns estados apresentaram indicadores que mostram a necessidade de redobrar os cuidados. Tanto os governos estaduais quanto o federal precisam de uma atuação renovada e com mais operações integradas, mais articulação federativa. Não é apertando um botão, não há fórmula mágica. Temos procurado fazer essas operações integradas. Apesar de saber que há uma situação delicada no estado, que não é uma particularidade de Pernambuco, temos visto um esforço enorme das autoridades locais para enfrentar o problema. Com certeza, tem atuação de grupos criminosos em Pernambuco, como tem no país inteiro. Então, é muito importante que haja esse trabalho concentrado. Nós somos um estado em que há uma pobreza muito grande, vulnerabilidades crônicas. No Brasil inteiro, incluindo Pernambuco, há realmente um sistema carcerário com problemas estruturais crônicos. Tudo isso, conjugadamente, traz desafios enormes à segurança pública. É isso que eu chamo de situação delicada.

 

Juntos pela Segurança

Não conheço em profundidade o programa de Pernambuco. Não tive a oportunidade de aprofundar um conhecimento sobre os fundamentos do programa. Vi que a governadora lançou, há uma expectativa muito grande em relação aos seus efeitos, mas ainda não houve tempo suficiente para que ele possa demonstrar os seus resultados. O que eu posso dizer é que vejo um esforço real no enfrentamento dessa situação. Acho que a instituição de metas é importante porque quando você não tem meta, você não trabalha para alcançá-las, mas eu não sei, eu não gostaria de julgar se a meta estabelecida pelo Governo do Estado é adequada para o desafio da segurança em Pernambuco. Durante muito tempo, a gente colocou uma meta para o Pacto pela Vida. Nós que governamos o estado por 16 anos. Nós, que eu digo, o PSB, porque o meu papel aqui como integrante do Governo Federal é um, como militante socialista, ex-deputado federal, dirigente partidário, a avaliação é de outra natureza. E nós sempre tivemos a preocupação com a instituição de metas, com mecanismos de gestão por resultados. Não dá para deixar cada um agir do jeito que quiser, tem que ter integração. Assisti a dezenas de reuniões do Pacto pela Vida com o governador do estado na cabeceira da mesa cobrando resultados do delegado comandante de área, do policial militar comandante de área.

 

Missão cumprida 

Estou muito feliz com esse trabalho ao longo desse primeiro ano do Governo Lula. Ser liderado por alguém como o ministro Flavio Dino, que tem qualificação, autoridade técnica, autoridade política pelos cargos que já exerceu, tem espírito público, coragem é muito importante. Você ser liderado por alguém com visão de estado, com integridade, com visão ética do serviço público e com coragem para enfrentar setores da política brasileira que nos últimos quatro anos destruíram as políticas de segurança é um privilégio. No Governo Bolsonaro a política de segurança foi distribuir armas e instrumentalizar as polícias, o que são duas coisas muito graves, com resultados naturalmente muito danosos para o país. Ficamos também satisfeitos que o ministro Dino, que vai para a Suprema Corte, seja sucedido por alguém também de uma vida pública de longa data, com muitos serviços prestados, inclusive na questão prisional e nas audiências de custódia. Foi uma iniciativa do ministro Lewandowski, quando foi presidente do Supremo e do Conselho Nacional de Justiça. E fico feliz também pelo meu sucessor aqui na Senasp, que é o Mário Sarrubbo, procurador-geral de Justiça de São Paulo, com quem já tínhamos grandes parcerias no combate ao crime organizado. Então, acho que cumprimos bem aqui a tarefa, representamos bem Pernambuco. Estou convicto de que a responsabilidade que nos foi confiada pelo PSB, pelo ministro Flávio Dino e pelo presidente Lula foi exercida com muita seriedade, com muita dedicação, com responsabilidade e eu tenho certeza que a gente deixa aqui um legado, e esse legado, certamente pela palavra do ministro Lewandowski e do procurador Sarubbo, terá continuidade.

 

Volta para casa 

Agora, eu vou para casa. Do ponto de vista familiar, foi um sacrifício muito grande esse período que passei aqui em Brasília. A convivência com minha família só se dava nos fins de semana. Estou sentindo falta disso. É um momento de recuperar essa convivência familiar, que é muito importante para qualquer pessoa. E também voltar para casa porque eu sou procurador da Fazenda Nacional. Eu estou há 17 anos fora da minha instituição. Voltarei para ela, se for o caminho de voltar, e não tem outro neste momento. E exatamente a partir do dia que eu for exonerado, estarei à disposição da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. Ocupo o cargo de procurador com muito orgulho, porque exerci durante muito tempo e sempre com o sentido de servidor público, que é o de servir à população. E, na área tributária, que é a área em que eu historicamente milito, a primeira face da justiça social é a justiça tributária. É preciso ter uma ação forte do Estado em relação a quem deixa de pagar suas obrigações fiscais e tributárias, para exatamente garantir a isonomia fiscal e social. Aqueles que ganham muito devem pagar muito. Quem ganha menos, paga menos, mas paga. E quem não ganha nada também, evidentemente, precisa ter o apoio do Estado. Eu fui secretário em Pernambuco durante oito anos com Eduardo Campos, fui deputado federal por dois mandatos, tive o privilégio de servir aqui ao Ministério da Justiça, sendo ministro da Justiça Flávio Dino, um dos maiores políticos da minha geração, que tinha essa atitude corajosa de enfrentamento. Não são todos os que se dispõem a fazer esse tipo de enfrentamento, com riscos, inclusive pessoais. Então, eu saio com o ministro. Entrei com ele, saio com ele, e depois de alguns dias de descanso, estarei na Procuradoria Geral da Fazenda Nacional me apresentando para cumprir minhas obrigações.

Entrevista publicada pelo jornal Diario de Pernambuco em 30/01/2024

Pedro Campos: “Não há democracia forte com partidos fracos”

Foto: Lula Carneiro/Divulgação

Irmão do prefeito do Recife, João Campos (PSB), e filho do ex-governador Eduardo Campos, Pedro Campos (PSB) estreou na política em 2022, eleito com 172.526 votos para a Câmara dos Deputados.

Em seis meses de atuação, o socialista conseguiu articular e pôr em pauta temas importantes que têm lhe garantido visibilidade nacional, a exemplo do Gabinete Compartilhado, iniciativa que reúne parlamentares de diversas regiões – e das mais diferentes legendas – para desenvolver projetos nas áreas de educação, sustentabilidade e respeito à diversidade.

Em uma entrevista exclusiva ao Diario de Pernambuco, Pedro avaliou os governos Lula (PT), Raquel Lyra (PSDB) e João Campos, e analisou o resultado da ação que culminou na inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por oito anos. A conversa ainda abordou sua atuação na Câmara Federal nos primeiros seis meses de mandato e as eleições de 2024.

Atuação

“Fui muito bem recebido na Câmara e, apesar do acirramento do debate, venho buscando fortalecer o diálogo e a construção de consensos. Com isso, temos avançado com projetos importantes e na participação em espaços estratégicos no Congresso, o que foi facilitado pelo fato de ter encontrado pessoas que estiveram junto do PSB, com Eduardo e Arraes, em momentos importantes da história brasileira e que guardam ligação histórica com nosso campo político.”

Balanço

“Sou autor do PL 2.215/2023, que pretende nacionalizar os Compaz e levar ao Brasil a experiência exitosa implementada pela Prefeitura do Recife; e do PL 2.805/2023, que amplia os investimentos em energias renováveis em comunidades rurais e de baixa renda para famílias beneficiadas pela Tarifa Social de Energia Elétrica. E na mesma linha, atuo como relator, em plenário, do PL 9.543/18, que amplia o número de famílias beneficiadas com a Tarifa Social da Água.”

Transnordestina

“Seguimos convergindo esforços para que a Transnordestina saia do papel em sua integralidade, incluindo o Ramal Salgueiro-Suape. A bancada federal de Pernambuco tem atuado de forma coesa e unida para a garantia dessa obra que é tão estruturante para todo o Nordeste e não apenas para Pernambuco, Ceará e Piauí. Temos que trabalhar para que a vontade política demonstrada pelo governo Lula se transforme em realização.”

2024

“Não é hora do debate eleitoral. Entendo que devemos focar as nossas atenções nos desafios presentes da população, como a geração de emprego e renda e a reconstrução das políticas sociais do Brasil. Isso não diminui a importância do debate político e do fortalecimento interno dos partidos, que deve ser permanente. Não existe democracia forte com partidos fracos. Em Pernambuco, o PSB continuará contribuindo com o debate público e com o desenvolvimento do estado.”

Lula

“O presidente Lula iniciou seu terceiro mandato com o desafio de reconstruir políticas públicas e a própria estrutura administrativa, desmontadas pelo presidente anterior. Já deu passos importantes, como a construção do novo regime fiscal, o relançamento do Programa de Aquisição de Alimentos, do Minha Casa, Minha Vida, e do Mais Médicos.”

Raquel Lyra

“Avalio que a governadora Raquel Lyra ainda não mostrou a que veio. Havia uma expectativa grande sobre a sua gestão, mas o governo não tem correspondido e, além de não apresentar avanços, tem andando para trás em temas importantes como educação e saúde. Seguiremos fazendo os alertas que forem necessários, dentro da atuação de uma oposição responsável, visando sempre o bem para o povo pernambucano.”

João Campos

“Penso que não preciso falar muito porque é um trabalho que tem recebido ampla aprovação da população, como demonstram sucessivas pesquisas de opinião. E é natural que haja este reconhecimento, pois trata-se de uma administração que tem projetos, tem ação e tem entregas. Um bom exemplo é a operação de crédito que, em tempo recorde, a prefeitura conseguiu realizar junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Os recursos já começaram a ser disponibilizados e sempre vale ressaltar que a totalidade dos R bilhões serão direcionados à população mais vulnerável do município, demonstrando o compromisso da gestão municipal em priorizar o povo que mais precisa.”

Bolsonaro

“Do ponto de vista político, nosso campo estava pronto para enfrentar e derrotar novamente Bolsonaro nas próximas eleições. Acredito que, politicamente, a inelegibilidade de Bolsonaro interessa mais aos que pleiteiam ocupar a sua sucessão, como Tarcísio e Zema. O julgamento do TSE não é político e fez valer a legislação, bem como a defesa da democracia. O bolsonarismo continuará existindo e precisa ser enfrentado no campo das ideias e do debate público.”

05/07/2023 – Entrevista publicada pelo jornal Diario de Pernambuco